Na Amazônia: Queda de árvore revela urnas funerárias e rituais antigos
- Karine Pagliarini
- há 9 horas
- 2 min de leitura

A queda de uma árvore em uma área de várzea no município de Fonte Boa - AM no início de maio revelou sete urnas funerárias indígenas de até 90 centímetros de diâmetro. As urnas estavam enterradas sob raízes de árvores gigantes da Amazônia, a cerca de 40 centímetros de profundidade, e continham ossos humanos, de peixes e tartarugas.
O achado arqueológico ocorreu no Lago do Cochila, uma ilha artificial construída por povos ancestrais na região do Médio Solimões. Segundo arqueólogos, o local abrigava antigas moradias sobre plataformas de terra e cerâmica erguidas para resistir às cheias do rio.
A arqueóloga Geórgea Layla Holanda, do Instituto Mamirauá, lidera os trabalhos de resgate e estudo das urnas. Em comunicado à imprensa, ela classificou a descoberta como “uma das mais significativas da arqueologia amazônica nos últimos anos”.
A investigação arqueológica ocorre em conjunto com a comunidade ribeirinha de São Lázaro do Arumandubinha.
A forma que as ossadas foram encontradas, segundo os arqueólogos, sugere práticas funerárias associadas a rituais alimentares, comuns em tradições indígenas.
As urnas têm características inéditas para a região. “São de grande volume, sem tampas cerâmicas visíveis, o que pode indicar um selamento com um material orgânico já decomposto”, explicou a arqueóloga.
A escavação demandou soluções específicas. A equipe ergueu uma plataforma de madeira e cipós para trabalhar acima do solo alagadiço. Segundo Márcio Amaral, as ilhas artificiais onde as urnas foram encontradas foram edificadas pelas comunidades ancestrais com solo e fragmentos cerâmicos retirados de outras áreas.
Após terem sido recuperadas, as peças foram levadas para Tefé -AM, sede do Instituto Mamirauá. O trabalho de campo se estendeu por semanas, com apoio constante de moradores.
As urnas e fragmentos recolhidos estão sob análise. Os primeiros resultados mostram argila esverdeada rara e faixas vermelhas sem associação direta com tradições conhecidas, como a Polícroma da Amazônia.
Os dados sugerem a existência de um horizonte cerâmico ainda não documentado na região do Alto Solimões. O material pode representar uma tradição local.
A descoberta também amplia o entendimento sobre o uso das várzeas por povos ancestrais. Por muito tempo, arqueólogos consideraram as áreas como espaços de ocupação temporária. As novas evidências apontam para residências permanentes e organizadas na região alagada.
Com imagens: divulgação